sábado, 17 de janeiro de 2009

Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender



Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito.
Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.
Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.


Tenho visto muito amor por aí, Amores mesmo, bravios, gigantescos,
descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva,
mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito. Apenas isso: bonitos,
belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.


Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais de repente se percebeu ameaçados apenas e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram; exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões.
Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo no amor.
Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reinvindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira.
Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça mas na hora errada.
Amar bonito é saber a hora de ter razão.


Ponha a mão na consciência. Você tem certeza que está fazendo o seu amor bonito?
De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade,
da alegria do encontro, da dor do desencontro, a maior beleza possível?
Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo
que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer.
Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito.
Sofrendo, deixa de ser alegre, igual criança.
E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.


Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia.
Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama.
Saia cantando e olhe alegre.
Recomendam-se: encabulamentos; ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, “aquela conversa importante que precisamos ter”, arquivar se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida.
Para quem ama toda atenção é sempre pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda atenção possível.
Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.


Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida
como criança de nariz encostado na vitrine, cheia de brinquedos dos nossos sonhos):
não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.


Não tenha mêdo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade;
não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração;
contar a verdade do tamanho do amor que sente.

Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser.
Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que instruiu em criança.
Sem mêdo de dizer, eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.


Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor,
ou bonitar fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito(a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é e nunca, deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.


Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.
Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma.
Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você.
Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.

Arthur da Távola

3 comentários:

  1. Façam tardes as manhãs
    Façam artes os artistas
    Faça parte da maçã
    A condenação prevista
    Façam chuvas os Xamãs
    Façam danças as coristas
    Façam votos que esta corda
    Não sabote o equilibrista

    Façam Beatles "For No One"
    Faça o povo a justiça
    Faça amor o tempo todo
    Que amor não desperdiça
    Faça votos pra alegria
    Faça com que todo dia
    Seja um dia de domingo

    Façam tardes as manhãs
    Façam artes os artistas
    Faça parte da maçã
    A condenação prevista

    Façam Beatles "For No One"
    Faça o povo a justiça
    Faça amor o tempo todo
    Que amor não desperdiça
    Faça votos pra alegria
    Faça com que todo dia
    Seja um dia de domingo

    (Osvaldo Montenegro)

    Votos de um lindo final de semana
    Um abraço

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  2. O AMOR
    Amo o amor que se reparte
    em beijos, leito e pão.
    Amor que pode ser eterno
    mas pode ser fugaz.
    Amor que se quer liberar
    para seguir amando.
    Amor divinizado que vem vindo
    Amor divinizado que se vai.

    Pablo Neruda

    Passei para desejar-lhe um final de semana cheio de amor e felicidade.
    Abraços

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  3. Isso é sensibilidade e maturidade emocional. Não dá pra ter essa grandeza sempre, mas procurar cultivá-la é fundamental... E com certeza dá um resultado muito positivo... Bjs

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